PROJETO
DE INDICAÇÃO Nº
Indica o Senhor Governador Rui Costa a elaboração de estudos
para implementar programas de capacitação profissional para mulheres negras
atuarem como empreendedoras do mercado turístico no âmbito do Município de
Salvador, propondo orientações técnicas bem como possibilidades de linhas de
crédito para o público específico.
A CÂMARA
MUNICIPAL DE SALVADOR
Indica:
Considerando que o turismo é uma atividade
socioeconômica que possibilita aos cidadãos autóctones atuarem
profissionalmente de forma independente, criando sua própria rede e tempo de
trabalho. E que o município de Salvador, embora seja o terceiro destino do
país, ainda carece de melhores serviços e de profissionais devidamente
capacitados, com instruções sobre administração de negócios, história, cultura
e características geoambientais do local, bem como com capacidade técnica e
econômica de gerirem seus próprios negócios;
Considerando, segundo pesquisa das estudiosas
Denise Macedo Ziliotto e Leticia Laureano dos Santos, publicado em 2015, na
Revista Latino-Americana de Geografia e Gênero, que as profissionais negras
ainda enfrentam índices diferenciados de empregabilidade, mesmo nos contextos
em que o mercado amplia suas vagas às mulheres, especialmente àquelas que
possuem formação universitária;
Considerando, com o estudo "As novas configurações do trabalho urbano no
Brasil", da pesquisadora Ângela Borges,
publicado em 2010, no caderno CRH, que embora tenha havido uma crescente
profissionalização no país, nas últimas duas décadas, observando a elevação do
nível de escolaridade, as mulheres negras ainda têm dificuldades de inserção e
igualdade de rendimento no mercado de trabalho;
Considerando, com o estudo conjunto entre a
pesquisadora Maria Aparecida Santos e o pesquisador Marco Antônio Santos,
publicado no volume 15, número 2, da Revista da Avaliação da Educação Superior,
em 2010, que as mulheres negras que conquistam melhores cargos no mercado de
trabalho dependem de esforços maiores que outros setores da sociedade. E além
da necessidade de comprovar continuamente a competência profissional, têm de
lidar com o preconceito e a discriminação racial, exigindo maiores
investimentos para a conquista de uma posição e respeito profissional;
Considerando que na década passada, a maioria
das pessoas que ocupavam o mercado informal, especialmente os trabalhos
domésticos, eram mulheres negras. No período de 2001 a 2009, os pesquisadores
Araújo e Limbardi identificaram que, no Brasil, mais da metade dos
trabalhadores formais (54,6%) eram brancos, enquanto mais da metade dos
trabalhadores informais (55,7%) eram negros. Nas atividades formais, os
empregadores preferiam os brancos, particularmente entre as mulheres, uma vez
que 52% dos trabalhadores e 58% das trabalhadoras formais eram brancos. Já a
ocupação informal, especialmente nos trabalhos domésticos, demonstrou as
maiores concentrações de negros e negras (cerca de 2/3 para ambos os sexos).
Considerando ainda, com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, entre os anos de 2003 e
2013, as mulheres negras tiveram os menores índices no quesito desocupação.
Conforme apontou o instituto, a situação de desocupação entre brancos caiu em
55,1%, no período, e entre negros 44,2%. O IBGE constatou ainda que a
diminuição do contingente de desocupados foi maior entre os homens brancos (56,1%
de redução), seguido das mulheres brancas (54,3% de decréscimo), dos homens
negros (47,4% de queda) e, por fim, das mulheres negras (41,5% de recuo).
Considerando também, com o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que o índice de desocupação é
maior entre as mulheres negras (56,0%) que entre mulheres brancas (43,3%) e que
o rendimento das mulheres negras é menor que das mulheres brancas. Esta
diferença prevalece mesmo considerando um aumento do rendimento das mulheres
negras entre 2003 e 2013. Segundo o instituto, em 2003 as trabalhadoras negras
ganhavam, em média, 49,7% da remuneração recebida pelas brancas, em 2013 esse
percentual foi de 57,8%.
Considerando, segundo pesquisa do Instituto
Ethos, realizada no ano de 2010, nas 500 maiores empresas do Brasil, que as
mulheres negras integram apenas 9,3% no quadro funcional, sendo que 5,6% atuam
na supervisão, 2,1% na gerência e 0,5% no quadro executivo, representando esta
última porcentagem, em números absolutos, 6 negras entre as 119 mulheres ou os
1.162 diretores, negros e não negros, de ambos os sexos, cuja cor ou raça foi
informada pelas empresas respondentes;
Considerando que o turismo é um mercado em
constante crescimento e permite a livre iniciativa das autóctones em diversos
setores como o da alimentação, entretenimento, guias de informações,
transportes, produções artesanais e demais insumos manifestos na cultura local,
principalmente possibilitando a consolidação das indústrias criativas;
Considerando toda a potencialidade do setor
turístico em Salvador, incluindo os vários segmentos como o cultural, étnico,
da terceira idade, de praia e sol além do turismo de negócios, bem como a
necessidade de inserção das mulheres negras no mercado de trabalho formal,
principalmente como administradoras do próprio negócio;
Considerando ainda, que o projeto pode ser
implementado em diversos outros destinos turísticos do Estado, especialmente em
outros municípios do recôncavo baiano, a exemplo de Cachoeira e Santo Amaro,
que são importantes destinos do turismo étnico do Brasil, concentrando
populações quilombolas;
Portanto, diante dos motivos
acima expostos: INDICA ao Sr. Governador Rui Costa a elaboração de estudos
para implementar programas de
capacitação profissional para mulheres negras atuarem como empreendedoras do
mercado turístico no âmbito do Município de Salvador, propondo orientações
técnicas bem como possibilidades de linhas de crédito para o público
específico.
Sala das Sessões, 15 de
fevereiro de 2016.
Vânia Galvão
Vereadora/Líder do
PT/Salvador
0 comentários: